TAÇA DE OURO –
o cabaret de muitos apelidos
A literatura mundial, brasileira e a gaúcha está
pontilhada de temas sobre a vida fascinante dos cabarets,
com sua luxuria, belas damas, crimes passionais e tantas
outras sequências que todos conhecemos.
Eram outros tempos em nossa cidadezinha, mas, os lupanares
aqui se desenvolveram e desde os anos 20, alguns ficaram
famosos e que por motivos óbvios, pouca documentação
existe de suas passagens pela vida urbana. Mulheres uruguaias
e de outros lugares, apareceram por aqui e algumas, vindas
de locais mais distantes, marcaram a anímica vida
dentro de nossa comunidade. Muitas foram belas e fugazes
entre nós e outras, como diz o poeta Horácio
Ferrer, sobre as prostitutas...”se apaixonou por aquele
bandoneonista e por amor, ganhou” e foram ficando
por estas bandas e aqui, se transformaram em carinhosas
esposas e doces mães de família, aliás,
nenhuma novidade nesse meio, em todas as sociedades.
Famosas foram as situações de Aurora e depois
a Coca, que possuiam casa onde agora é a famosa esquina
do Pixinga entre as rua João de Oliveira Rodrigues,
gal. Osório e a Barra Preta, prédio que é
de prioridade da sucessão de Joubert Martins Netto
e que no testemunho da então menina Lígia
Spotorno (Petruzzi) que ao invés de irem para o Colégio
Elementar pela rua 13 de maio, faziam o trajeto, junto com
suas coleguinhas pela rua citada, a fim de, após
almoço, verem as mulheres “de chambre e com
penteados da moda, tomando sol da tarde, na rua. Discreto
convívio entre nossa sociedade com aquele grupo de
damas que praticavam a conhecida “mais antiga profissão
do mundo”.
Mas nos anos em que estamos viajando por nossa terra, fins
de 30 e início de 40, o local de encontros lacivos
era a TAÇA DE OURO, o estabelecimento mais popular,
embora de fama muito negativa, com apelidos depreciativos
como “o QUINCHO, PERIGO, PULGUEIRO cujos significados
são claros. Provavelmente foi seu primeiro proprietário
um italiano que aqui vivia de nome Raffini, depois, de Olavo
Acunha e nos últimos momentos, dos empresários
da noite conhecidos por Jamil e Bazevite.
Aproveitando a memória prodigiosa de Volmer Santos,
o conhecido vendedor de amendoim que ainda faz desse mister,
sua profissão, lembramos a presença de mulheres
que ficaram conhecidas pelos mais antigos moradores daqui.
A Bicuda, Veneranda, Bico Doce, Peito de Pomba, Nanica e
tantas outras que “faziam ponto” nesse local.
As famosas mariposas estão aqui retratadas com seus
apelidos de guerra pelo motivo de que muitas delas tornaram-se
membros de famílias da região e de que outras,
ainda vivem.
As noitadas eram abrilhantadas pelos conjuntos improvisados,
tendo a frente, alguns músicos que marcaram época
em nosso meio da boêmia, como Prado e seu bandônio,
Zeca Neto, no banjo, o Volmer aqui nomeado, no violão,
Mico Piolho no surdo e Rato, no pandeiro. Era o ponto de
encontro de muitos onde a extensão da noite era um
fato lírico, quando em muitas ocasiões aconteciam
lutas que ficaram perpetuadas no imaginário popular,
como o assassinato do cabo Lourenço, figura muito
bem quista entre todos, por seu desafeto, o soldado Baltazar,
numa das calçadas do prédio que se localizava
na rua gal. Osório, esquina Alípio Santiago
Correa, onde hoje está edificado o quartel da Brigada
Militar.
Tudo foi-se no tempo. As mulheres passaram, levadas pela
morte ou por algum aficcionado da noite que as retiraram,
formando um lar e família. Depois, diluiu-se no espaço,
mas ainda causa emoção, como no caso do Volmer
dos Santos, que relembra com saudade um período inesquecível
desta cidade que festeja o seu bem vivido esquicentenário.
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A TAÇA DE
OURO, o quincho, o pulgueiro e o perigo, marcado por
esses apelidos, foi referência na zona sul,
na subida boêmia da Coxilha. |
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