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O TANGO EM SANTA VITÓRIA DO PALMAR

NOSSOS CANTORES E INSTRUMENTISTAS DO GÊNERO - GRANDE LIRISMO

Pela grande influência Argentina e Uruguaia, através do contato físico, literário, artes cênicas, caravanas de artistas e a grande força de opinião que era o rádio, o nosso meio estava povoado de gente que admirava o Tango e que é mais importante, sabia interpretá-lo como os melhores e executantes do Rio da Prata.
A assimilação era fácil em relação ao resto do Brasil e também, as nossas cidades mais próximas, como o Rio Grande, Pelotas, Jaguarão e mesmo Porto Alegre, faziam do gênero tangueiro uma fervente adoração.
Corriam os anos de 30 e 40 e a juventude santa-vitoriense não dispensava as cantorias platinas, e por estes lados, a grande maioria falava muito bem o espanhol e conhecia cantores, orquestras e a literatura portenha.
Tivemos, por muito tempo a abrilhantar nossos bailes a famosa orquestra de jazz do Darcy Blotta que engalanava as noitadas do Comercial e Caixeiral, Club Social do Chuí, mais ainda, na Barra e no Hermenegildo.
Quando o baile era importante, o Darci com seu acordeon, importava o maestro conterrâneo Alcebíades Souza, no piano, Alfredo Lino de Souza, no violino, Ari Pinto de Oliveira, no contra-baixo, apoiado pelo magistral violão acústico de Nabuco Torino. Assim estava formada a parte típica de tango do conjunto.
Também era comum passarem por estes lados com grandes apresentações de orquestras, argentinas e uruguaias que demandavam ao norte do país para se apresentarem na capital do estado, em São Paulo e Rio de Janeiro, onde tinham uma platéia fervorosa e fiel.
Grandes cantores do estrangeiro por aqui passavam e deliciavam nossa gente nos teatros e salões.
Mas, os nossos cantores da época referida deixaram marcada na saudade dos de então, sua melodiosa e carismática voz e emoção.
Registro o músico e cantor Rui Paranhos Torino, o Dudu que interpretava as canções principalmente da verve gardeleana e mais o repertório campeiro, poemas do " Velho Pancho". "Opa...Opa...Opa... e das líricas peças como " Questa a bajo".
Dudu, excepcional violonistas, juntamente com outro mergulhão, Agripino Viana, que fazia um centro com suas cordas e mais o porto-alegrense Andara, na Rádio Gaúcha e Farroupilha, teatros e cabarés, acompanhavam as maiores expressões do tango de Buenos Aires e Montevidéu, como Hugo del Carril (forjado para substituir Gardel falecido em 35 ), Charlo e Aldo Campoamor que viria a ser o grande cantor de Astor de Piazzola, o maestro do bandônio que revolucionou o tango para sempre.
Tivemos seguindo-os um grande cantor melodioso, diferente dos adeptos das vozes potentes, mas de uma sutileza incomparável, o irmão daquele primeiro e que foi Humberto Torino, deixando nas especiais interpretações, como "Canción desesperada e En esta tarde gris". Foi, Humberto, um marco dos seguidores de Ignácio Corsini e Agustin Magaldi.
Outra figura impactante, já referida numa crônica anterior que foi Olavo Acunha. Potente voz, modulação perfeita e era afeito a qualquer tipo de tango, tanto cantando "Uno, como a Cumparsita", sua peça musical de preferência.
Elias Suaya, de origem árabe, desde menino, dedicou-se ao boemia, juntamente com a grande bailarino, Edelcy Barberena. O turco, como era chamado, tinha como "cavalinho de batalha" Nostalgias e se dedicava as valsas, como "Pedacito de Cielo".
Aracy Rodrigues começa a se destacar nos fins de 1940 e segue até a próxima década. Voz varonil, tipo Gardel, mas principalmente a de Hugo del Carril, Julio Sosa, uruguaio de Las Piedras. Possuía um repertório variado, entre milongas e tangos de cunho social, como Cambalache, de Henrique Santos Discépolo e Rencor.
A maior característica de Aracy era o acompanhamento que ele levava, os violões de Antoninho Blotta, o irmão do Darcy e seu constante parceiro, que foi Enio Dias, que infelizmente partiu muito cedo, desfazendo a dupla. Repetia-se a fase Dudu Andara-Agripino.
Uma mulher desta terra veio oriunda de uma família de uruguaios aqui radicada, representar a emoção feminina santa-vitoriense do tango, Blanca Sanches.
De uma personalidade forte e carisma maior fazia eco nas músicas de Libertad Lamarque , Azuzena Maizane e Roland Olga del Grossi, deixava maravilhas vocais como no belíssimo "Adios Muchachos e Fumando Espero", coqueluches do momento.
E finalmente, embora existam outros tantos, ainda encontramos um dos últimos notívagos de nossas madrugadas, onde vai desfilando tangos e valsas com sua potente interpretação. Representante daquela ocasião temos o teimoso e incansável Lídio Lima que sempre esteve voltado para as letras e melodias tangueiras, românticas, como Malevaje e Charlemos.
O tango segue encantando as platéias brasileiras e do mundo, mas por estes lados, o modernismo apagou essa mania de tão bem cantar e executar música, mas, na realidade, quando é tocado ou cantado um tango, a emoção dos mais antigos se agiganta e nos faz voltar aos tempos de grande musicalidade que acontecia nas terras de Santa Vitória do Palmar.

 

Orquestra de Lirilo (Lírio) Pereira da cidade de Castilhos (ROU) quando este estava tocando Clarinete. (foto do autor)
 
Agripino Vianna, Andara (Guitarrista de Porto Alegre), Dudu Torino (cortesia da sra Urânia (Lana) Centurião Suaya) quando acompanhavam na rádio Gaúcha o cantante argentino Aldo Campoamor, que foi cantor de Astor Piazolla.
 
Humberto Torino. (Gentileza da profa. Clair Pinto de Oliveira Torino)
Olavo Acunha cantor conterrâneo. (foto cedida por seu sobrinho prof. Edson Acunha)
 
Elias Suaya e o boêmio Edelci Barberena. (foto de Urânia)
 
Araci Rodrigues cantando no clube Caixeiral acompanhado pela orquestra de Darci Blotta vendo-se a direita Antoninho Blotta ao contrabaixo. (foto cedida pela viúva do mesmo, profª. Gicelda)
 
Blanca Sanches Trigo – representante feminina das cantoras de Tango de Santa Vitória do Palmar. (cortesia da sra. Celeste Sanches)
 
Lídio Fernandes de Lima – Último cantor remanescente da safra de grandes cantores da Terra. (foto do retratado)

 

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br