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O PASSO DO CHUÍ – O MARCO Nº 2 – O NEGRITO PEQUENO

A fronteira meridional de nossa terra foi palco de muitas ações militares e diplomáticas, sendo que a mais importante de todas foi quando Brasil e Uruguai combinaram um acordo de posse que viria a desembocar nos Tratados de Aliança e Demarcação entre os anos de 1851 e finalizando com o definitivo estabelecimento dos marcos que até hoje se encontram na região fronteiriça desde a foz do Chuí até o Quarai, delimitando os espaços na parte sul e oeste do confronte binacional, em 1859.
Estas informações são extraídas das súmulas dos tratados em questão e que estão colocados nas obras do cel. Tancredo Fernandes de Mello, em seu livro editado em 1901 e recolocado à consideração dos estudiosos em 1911, O MUNICÍPIO DE SANTA VITÓRIA DO PALMAR e no atual compêndio de Tau Golim, no 2º volume de sua A FRONTEIRA.
Mas o quê interessa neste momento é a explicação da razão porque o marco delimitório das duas nações já assinalados, possui no nº 2, cravado no local chamado de PASSO DO CHUÍ, uma forma diferente, quando o arroio do mesmo nome, vem do norte para o sul e dobra em direção leste, desaguando no mar.
Esta estela de granito vindo do Rio de Janeiro é que o diferencia dos outros, já que além dele, o mesmo é continuado por um muro de 2,20 de altura por 70,40 mts de comprimento.
Por que o objeto demarcatório é completamente desigual de todos os outros? A razão está apresentada num relatório onde o Barão de Caçapava, o mal. Francisco José Soares de Andréa, representante do nosso pais nesse momento. Chama-se EXPOSIÇÃO ABREVIADA, quando o Militar – diplomata coloca:

“ o 2º marco ficou sobre a margem direita do Chuí, ao norte do Passo, ficando à margem direita do arroio, que serve de passo para o lado da República Oriental, por ser nossa toda a margem esquerda. Bem que fosse um pouco minuciosa essa exigência do Comissário Oriental. Bem que fosse um pouco minuciosa essa exigência do Comissário Oriental, não lhe dei importância, porque logo acima desse passo existe outro onde o rio é totalmente nosso e poderão existir outros mais e poderemos, se nos convier, utilizar o Passo Geral, vedando a passagem para o nosso lado;
Vendo-se claramente que o lugar escolhido para o marco era um terreno falso e qualquer cheia deixar o marco ilhado e mesmo derrubado roubando-lhe a terra; e sendo, por outro lado, indispensável tornar firme e variável aquele lugar, fiz acompanhar o marco, desde a altura da sapata, de uma larga muralha que vai em linha horizontal encontrar a subida da Coxilha. Deste modo, nem o marco poderá ficar ilhado, nem será demolido pela ação das águas”.

Dada as devidas explicações é necessário que se apresente, mais uma controvérsia que perdura ou é do desconhecimento da maioria dos habitantes da região.
No lado sul do marco apresentado, um pequeno córrego quase o banha e sempre foi confundido como sendo o arroio Chuí, o que não é verdade, conforme as fotos demonstram. Este é um pequeno afluente que vem de dentro do pais irmão, mais ou menos, nas terras da sucessão do saudoso conterrâneo Edgar Peres e que possui o nome de OLHOS D´AGUA, a mesma nominação da fazenda descrita. Este vai desembocar no histórico Chuí e não pertence ao Brasil, mesmo que muitos não concordem com esse posicionamento geográfico, mas é verdadeiramente correto.
E para finalizar, relato uma historinha contada por um senhor da zona (que infelizmente não foi guardado o nome) e que estivemos reunidos quando da vinda da caravana dos Cavaleiros de Roraima até a fronteira austral, unindo-o ao norte com o sul brasileiro.
Dizia ele que, nesta data (2005), possuía mais de 80 anos e lembrava-se que de menino, com uma turma de amigos, fugia dos incipientes povoados e vinha para o OLHOS D´AGUA (que também pensavam ser o Chuí) para tomar banho nas perigosas águas do curso correntino. O grupo era conduzido por um rapazinho um pouco mais velho, conhecido por NEGRITO PEQUENO, brasileiro, que os ensinava a nadar. Isto era feito seguidamente, principalmente, depois do almoço, quando os adultos estavam dormindo. Foi o professor de natação de quase todos os guris da localidade!
Relembra com grande tristeza, por fim, que numa determinada tarde, depois de fazer com que os “pibes fronteiriços” tivessem suas práticas natatórias, não sabendo-se a razão, o inditado menino desapareceu nas turvas águas do OLHOS D´AGUA.
Fica o registro! Na geografia do PASSO DO CHUÍ, no Marco diferente, o nº 2 e no desfecho trágico da molecagem dos meninos de então, com a triste lembrança do NEGRITO PEQUENO.


Marco nº2 vendo o afluente OLHOS D’AGUA desembocando no Chuí.
Marco nº2 com seu muro de pedra.
Ambas fotos cortesia da Foto Collor de Sérgio Oliveira.

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br