Quem somos
Coberturas
Notícias
Revista
Entrevistas
Enquetes
Arquivo
José Golgerci
Políbio Braga
Colaboradores
Zero Hora
Correio do Povo
Diário Popular
O Globo
Gazeta Esportiva
Clima Tempo
Weather Channel
UFPel
Tempo Agora
Banco do Brasil
Banrisul
Bradesco
Caixa Federal
Santander
Secretaria Fazenda RS
Receita Federal
Proc. Geral da União
TRT
TRE
INSS
Detran-RS
Consulta CEP
Lista Telefônica
 
 

PORQUE SOMOS CHAMADOS DE MERGULHÕES?

 

Este adjetivo, hoje tão carinhoso pelo qual somos conhecidos por todas partes onde vamos, sempre lembrados ou atuamos, teve outrora significado pejorativo que, principalmente as pessoas do interior, não gostavam de serem qualificados por ele.

A razão de o levarmos com muito orgulho, em especial quando nos encontramos longe da terra, é oriunda de um pássaro negro de hábitos aquáticos que vive em toda a América, desde o Alasca até a Patagônia, habitando as margens de arroios, lagoas, rios e principalmente, banhados. É muito arisco, mesmo que vivendo em média distância com o predador maior, que é o homem, ao menor ruído em sua volta, mergulha, indo reaparecer numa distância livre do perigo. Chama-se popularmente por aqui de biguá, nome de origem indígena extraído do som que provoca o seu canto, mas nas línguas dos colonizadores ibéricos, transformou- se em Mergulhão. Este animal é uma figura destacada em nossa zona, principalmente nos alagados, e em especial, onde está a geografia de nossos municípios.
Com a chegada de portugueses e espanhóis neste pampa platino, as lutas entre ambos duraram mais de trezentos anos, no afã de conquistarem a boca do Rio da Prata, com a finalidade de dominarem aquele curso hídrico e chegarem às minas de Potosi, na Bolívia, a fim de, escoarem a prata abundante ali. As correrias das forças européias, juntamente com os índios transformavam a região num palco de sangrentas guerras, deixando como prova grande quantidade de fortes militares, como Assunção, Buenos Aires, Colônia do Sacramento, Montevidéu, Santa Tereza, São Miguel, Rio Grande, São José do Norte, Rio Pardo etc.
Nesse ínterim, tratados como o de Madri (1750), mas principalmente o de Santo Ildefonso (1777), procuraram dar trégua às hospitalidades. Neste último surge uma nova ordem jurídica-diplomática, conhecida como os "Campos Neutrais", zona neutra entre os domínios de ambas as coroas. Sua demarcação desde o Chuí até o norte do Brasil, pelo lado oeste, foi impossível devido à natureza dos terrenos. Mas aqui, onde hoje estão os municípios Chuí e Santa Vitória do Palmar, tornou-se fácil fazê-lo, já que ao sul estavam os arroios Chuí e São Miguel; pelo norte o banhado do Taim; pelo oeste a lagoa Mirim e no leste, o Atlântico. Toda esta área ficou impossibilitada de domínio político dos países guerreantes e dessa maneira, com o aparecimento das estâncias para a criação do gado vendido em São Paulo, os habitantes que aqui se encontravam expostos à sanha de militares, mas principalmente de bandoleiros que faziam-no um cenário de suas correrias, mais conhecidos por "gaudérios" e depois, "gaúchos", truculentos e arrasadores, tendo lei própria, roubando os animais, matando os homens e levando as mulheres. Devido à topografia do terreno, era muito difícil a defesa das famílias radicadas em ranchos que depois se transformaram nas grandes fazendas do extremo sul.
A única solução para safarem-se dos ataques referidos era o esconderijo nos banhados ou então, os homens defendiam suas terras e gente, chegando inclusive, como em toda região pampeana existirem ainda casas com peças sem comunicação com o exterior, onde os elementos do sexo masculino defendiam suas posses com a vida.
Ao menor sinal da vinda ao longe de tropas de forasteiros, todos se colocavam de atalaia e somente depois, devidamente identificados os indivíduos, é que os mais fracos começavam a aparecer, ficando meio escondidos nas sombras das árvores do banhado ou nas pontas dos ranchos e casas. Mas agora é que surge o apelido Mergulhão, pois ao serem vistos pelas pessoas de fora, logo se escondiam como fazia o referido animal, envergonhados e tímidos.
Passado o tempo, fins do século dezenove e até o termino da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o interior desta plaga sulina, principalmente devido à melhoria das estradas e do aparecimento do "jeep", começou a permitir um maior contato entre as pessoas de fora, que eram apelidadas de Mergulhonas pela situação histórica referida e pelo isolamento. Hoje, nossos municípios estão adequados ao trânsito diário, distinguindo-se essa diferença do "Homem do Campo e da Cidade". Fomos todos nivelados no âmbito social.
É bem verdade que ainda os mais antigos sentem uma ponta de raiva quando assim são chamados, mas na realidade nossa gente já assimilou o epíteto que nos caracteriza, principalmente quando estamos longe dos pagos e aí verdadeiramente nos orgulhamos de sermos chamados de Mergulhões.



Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br