Abílio Azambuja – Primeiro
Mergulhão que teve nome de rua na Capital do Estado
Em muitas partes do mundo é comum ouvir-se o grito
“Oh! Mergulhão!” Por esse nome somos
conhecidos e nosso jeito de falar era, até bem pouco
tempo, especial, embora agora, com os meios de comunicação,
nossa maneira tão peculiar está desaparecendo
principalmente na juventude, que prefere se expressar como
carioca, mineiro, ou baiano, incentivados pelas vozes da
televisão. É a força do momento! Muitos
conterrâneos, ao partirem saudosos daqui, se destacam
em suas atividades e orgulhamo-nos dessa vitória
que muitos conseguem. Deve ser assim em todos os lugares,
mas nós temos uma ponta de vaidade por essa situação.
O professor ABÍLIO AZAMBUJA, de uma das mais tradicionais
estirpes da terra, é exemplo claro, do que estamos
afirmando e antes de alçar vôo para Porto Alegre,
mostrou sua capacidade entre nós.
Formando em Bioquímica e Farmácia, aqui trabalhou,
ainda como funcionário público no Cartório
de Registros Civis, mas nunca deixou de exercer o magistério,
sua grande paixão, inclusive, tendo contraído
matrimônio com uma mestra que veio entre nós
laborar, Nayr Englesdorf. Após essa experiência
voltou para a capital e lá foi um grande cientista,
mas tendeu para o professorado e em sua casa abrigou estudantes
conterrâneos, num simulacro de pensão para
alunos que iam “estudar pra dentro”.
Foi professor do colégio padrão do estado,
o Julho de Castilho e por mais de uma vez, seu diretor,
somente deixando a cátedra quando, como ele mesmo
afirmava, que “notou que seus alunos, pela sua idade,
não mais o entendiam”. Que modéstia,
mas grande responsabilidade de pedagogo.
Foi professor de muitos que depois se destacaram na vida
profissional e política gaúcha, entre ele,
o governador e, um fato ocorrido entre ambos, é digno
de menção:
“já velho e não mais trabalhando
como magister, gostava de visitar o seu querido “julinho”
e muitas vezes andava pelos corredores a cata de novidades
e na procura de estudantes desgarrados ou aflitos
por não entenderem a famosa “química”
e lá estava pronto para gratuitamente, ajudá-los.
Certa ocasião, passando pela sala das funcionárias
domésticas, as mais humildes, sentiu um choro
compulsivo de uma delas e ao saber que o esposo estava
muito enfermo, lamentava-se por não estar recebendo
o seu salário, como aliás, muitos de
nós, passamos por tão difícil
aflição, naquela época.
Prof. ABÍLIO voltou e preocupado com o acontecido,
dirigiu-se para o Palácio Piratini, a procura
do governador Brizola, menino pobre que enfrentou
grande apertos para formar-se em engenharia e que
foi um de seus diletos alunos, e com a voz muito alta
e alterada queria ser recebido pelo 1º mandatário
do executivo.
O chefe do cerimonial não permitiu a sua entrada,
mas Leonel Brizola conhecendo o jeito inconfundível
de falar do velho mestre, mandou que permitissem sua
entrada no gabinete e ofereceu-lhe um café
para acalmá-lo e ai começa este pequeno
diálogo, que é digno de ser registrado:
“professor, diz Brizola, acalme-se, tome um
cafezinho e Abílio, responde, que cafezinho,
nada! Pensas que as domésticas não comem?
Fazem alguns meses que não vem o salário.
O governador diz que irá solucionar no outro
dia, o problema. Abílio novamente se revolta
e afirma que não irá sair do palácio
antes de levar para as funcionárias a solução
imediata. O líder político chama um
ajudante e manda formalizar uma ordem de pagamento
para aquele momento e pronta esta, lhe é entregue.
Professor Abílio, de posse do tão sonhado
papel com a solução para o atraso, vira-se
para o chefe e lhe diz categoricamente: agora vou
sentar-me e tomar o café.”
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Cousas do Grande Prof. Abílio, o “Abilinho”,
como todos o chamavam carinhosamente.
Após o seu falecimento em 1971 um grupo de alunos
que haviam passado por suas mãos e recebido eternos
ensinamentos, fizeram um movimento para colocar numa artéria
de Porto Alegre, o seu nome e que dizia: “Rua Prof.
Abílio Azambuja”.
Grande passagem pela história desse homem íntegro
que soube granjear o respeito de todos.
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