Quem somos
Coberturas
Notícias
Revista
Entrevistas
Enquetes
Arquivo
José Golgerci
Políbio Braga
Colaboradores
Zero Hora
Correio do Povo
Diário Popular
O Globo
Gazeta Esportiva
Clima Tempo
Weather Channel
UFPel
Tempo Agora
Banco do Brasil
Banrisul
Bradesco
Caixa Federal
Santander
Secretaria Fazenda RS
Receita Federal
Proc. Geral da União
TRT
TRE
INSS
Detran-RS
Consulta CEP
Lista Telefônica
 
 

QUANDO OS FOLES LIBERARAM SONS EM NOSSO PAMPA E O MAR

Nestes tempos de grandes ruidos em volta, torna-se dificil sentir o canto dos pássaros, ruídos das folhas das árvores e quando a pseudo música, se é que assim podemos chamá-la, fere os ouvidos e desagrada o ambiente, lembraremos os executores dos instrumentos musicais, cujo som foram saídos dos foles delicados, o bandônio e as gaitas, tão em moda, naqueles tempos. O primeiro na fronteira, a alma do tango e as outras, servindo em todas as ocasiões onde era ouvida a melodiosa da arte da campanha, da zona urbana e a beira mar, em todo o território nacional.
JOÃO PRADO MARTINS, boêmio por natureza, incentivado ou pelo menos, aceito por sua esposa, Maria Luiza Posada, que suportava a sua ausência de noites e noites, quando o mestre se fazia ouvir, nos bailes de campanha, no Hermenegildo, nas brincadeiras, ou mesmo, em qualquer boteco, onde os “borrachos” encurtavam a sua vida dentro da poesia e o lirismo.
No entanto, era na TAÇA DE OURO, o popular QUINCHO, saudosamente lembrado pelo declamador Marinho Blotta, que o popularíssimo PRADO dava demonstrações de sua habilidade.
Trabalhando na construção do porto nos anos 40, muitas vezes,chegava em casa ao amanhecer, horas antes de passar o caminhão que os levaria até a beira da lagoa Mirim. Com um rápido banho, para tirar a ressaca e tomando um café forte, a fim de, deixar os rastros etílicos da noite passada, lá ia o popular executante do “bandoneón”, como dizem os platinos, para trabalhar na turma, no pesado, por todo o dia. Ao voltar, passava por sua residência e continuava a rotina musical, distribuindo, valsas, maxixes, sambas, boleros e tangos, tão a gosto e afetivo aos nossos ouvidos.
PRADO, somente deixou de executar o seu instrumento quando as forças não lhe deram mais, principalmente por que o foco de sua inspiração – a noite – já era uma impossível realidade de alcançar.
Outro gaiteiro que atuava na campanha de nossa terra, era o curral-altense AURÉLIO SOUZA, afincado pelas bandas de lá, era cego e oriundo de grande família que se esparrama naqueles rincões, tornava a sua arte de “tocar”, também o bandônio, a gaita de oito baixos, tão popular no interior de todo o pais, mais o seu inseparável “acordeon”, de mais recursos que a anterior, num modo de vida. Era a maneira de sustentar-se e sempre bem vestido e primando pela aparência, estava requisitado para os bailes nas estâncias e como fazia parada por um certo tempo nelas, tornava-se figura popularíssima nos saraus noturnos, amenizando as longas e solitárias horas em que o dia custa a chegar. Poeta popular, chegado aos versos e a redação de cartas, AURÉLIO, vivia se modernizando com as modas, tanto na poesia, como em missivas amorosas que, por sua situação, ditava aos rapazes e donzelas apaixonados. De uma voz clara e delicada, tornava-se um ser coadjuvante para embelezar a paisagem de nosso interior.
DIONÍSIO AMARAL, cria do Arroio Del Rei, da estirpe familiar que lhe deu o nome, era um mulato alto e faceiro, que gostava de fazer constantes viagens para o “Povo” e também, para Pelotas e Rio Grande, onde se atualizava nas mais modernas músicas do momento, principalmente as marchinhas de carnaval.
Durante o verão, lá pelos fins de dezembro, já entrado nos anos, ele era contratado pelo Clube Recreio dos Veranistas, do Hermenegildo e passava toda a temporada praticando o seu mister.
No hotelzinho da da. Juraci, ali na beira do riacho, onde ainda o tempo não o derrubou, este homem da campanha ficava até fins de março, quando os maravilhosos tempos de férias, se estendiam, havendo menor número de horas escolares e se aprendia mais, este gaiteiro, com sua arte e a sonora gaita de oito baixos, ficava no prédio de palha e madeira – a Sociedade Recreativa, pois, pelas noites, durante a semana executava peças que a gente não esquece mais, como “o gato na tuba”, adeus Ritinha e tantas outras. No sábado, a noite e domingo no baile infantil, o nosso querido e simpático Dionísio, era substituido pela flamante orquestra do grande homem da arte musical, que era o Darci Blotta.
DIONÍSIO AMARAL terminou sua tarefa de verão, quando em 1951, na presidência de Roberto Rotta e Anselmo Leonetti, foi comprada uma “eletrola”, como o nome diz, distribuindo sons através de válvulas elétricas e o disco movido à manivela, que inicialmente estava aos cuidados do Francisco Donato Cava, o Chico.
Estes homens, a sua maneira, forma diferente de execução, habilidades várias e sobretudo, com a sensibilidade de entender a juventude das praias, a solidão da campanha e a vida boêmia, foram uma referência da arte, simples, sem os horrores do que se conhece hoje e é por isso, que Santa Vitória do Palmar lhes deve, pelo menos, uns instantes de recordação e saudades, pelo que fizeram, praticando o seu trabalho e suas paixões de artistas por estas latitudes.


Foto de Aurélio Souza (cedida gentilmente por Luzardo Echeverria)
O gaiteiro Dionísio ao centro cercado por seu filho e irmão (cortesia de seu sobrrinho Altamiro Terra)
Joao Prado Martins com seu bandôneo numa festa familiar (do acervo da família Prado Martins)

 


Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br