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Gostosinho – O Ônibus da Linha Barra do Chuí - Hermenegildo
Lá vão os Mergulhões para o deserto do Saara, viajando no Gostosinho “frase atribuída ao Exo Corrêa”

As dificuldades dos veranistas do Hermenegildo eram muitas, principalmente porque a travessia nas areias de mais ou menos 3 Km, era de difícil passagem, somente permitida por carros de tração animal, durando quase uma hora a duas.
No início de 1950, José Antonio Plá, filho do pioneiro de linha de coletivos pela costa do mar, com seu caminhão Fargo amarelo, que levava como dístico no para-choque o pomposo título de “Lobo da Costa”, sentiu que durante o veraneio, principalmente no início e fim, seria lucrativo fazer as mudanças, já que a solidão no resto do ano era tanta e o isolamento maior, que o hábito era transportar quase tudo que estava nos ranchos. Isto se chamava na linguagem popular, de “Mudadas”.
Assim começa o transporte municipal para as nossas praias, que culminaria com uma “Linha de Ônibus”, ligando-as diariamente duas vezes, pela manhã e a tarde. O roteiro estava estabelecido desta forma:
“O ônibus da empresa Pássaro Azul, de Laudelino Acosta, o uruguaio Tano, saia de nossa cidade em direção ao Chuí e no verão levava a sua rota até a Barra do Chuí. Daí, fazia-se a baldeação para viajar na costa do mar num coletivo cuja origem será descrita”.
Os primeiros carros que fizeram a ligação entre Santa Vitória do Palmar e Rio Grande, pela única via que permitia a rodagem a motor, era uns pequeninos “fordecos” do ano 23 em diante, muito acanhados que transformavam a viagem numa incomodidade até a aceitação deles, talvez forçada, por serem mais rápidos do que os barcos pela Mirim, mas, o lucro que começou a entrar nos cofres da empresa que se chamava Atlântica, de propriedade de José Benito de los Santos e Yacomo Frigério, forçou uma mudança radical.
Dessa situação, a firma importou em 1934 um Ford do ano para receber 12 passageiros comodamente sentados e em 1936, trouxe outro que chegava desde os EUA, via Porto de Rio Grande.
Estes dois coletivos serviram até 1940, quando os empresários começaram a possuir os grandes Ônibus Fords, com janelas envidraçadas e uma enorme bagageira, conhecida por “Vaca” em cima da capota. Assim os primeiros carros grandes foram deixados de lado, pois, como todos os mais velhos sabem, a água salgada é uma destruidora dos metais e logo os mesmos ficavam imprestáveis.
Voltemos à linha das duas praias, quando José Antonio solicitou à Prefeitura Municipal, uma licença precária para fazer funcionar dita atividade e num despacho do Prefeito Municipal Bernardino Silveira Lima, datado de 21 de dezembro de 1951, por um decreto recebeu dita concessão.
Nesse ano, numa chácara de propriedade do postulante, na estrada do Chuí à Barra do Chuí, o mesmo, tendo como ajudantes o jovem Wilson Peres, o irmão da grande pintora conterrânea, Brondina e do Claúdio Bobadilha, trabalhando nas sucatas dos carros 34 e 36, conseguiram preparar um novo veículo com peças de ambos e assim, com uma grande precariedade, deixaram estas duas peças de museu, transformadas num coletivo que serviu por muito tempo.
Agora surge o nome de Gostosinho para o novel meio de transporte, que despontou como grande colaborador no progresso do Hermenegildo e Barra e fez diariamente o contato com os pontos citados, passando pelas Maravilhas.
Grande melhoria para esses anos duros em relação à comunicação terrestre.
A firma Pássaro Azul nesse ano havia encomendado um carro com motor dentro do veículo, aliás, como todos são agora e possuía recursos atraentes para a ocasião. Vidros Rai band, som interno e estofamento moderno. Era um luxo! Acontece que no interior do Brasil os carros grandes que trafegavam nas difíceis estradas de chão, principalmente eram chamados de “Gostosões” e o do seu Tano assim foi apelidado, sendo inclusive, motivo de uma bem bolada letra feita pelo Cantor popular de nossa terra, o “Aldo Rodrigues”, o do Pandeiro, reforçando esse apodo e o mesmo inaugurou a linha de verão para o extremo sul do Litoral brasileiro nos primeiros dias de Janeiro. Ao chegar no bar do Omar Pontes às 10:30 h, a famosa Vertente, o remendado veículo do José Antônio, também o fez, para que os passageiros que demandavam da cidade e do Chuí, em direção à Estação do Hermenegildo, fizessem o transbordo. Dizem, então, que o hilariante Exo, gritou paro os que subiam nele: “Lá vão os mergulhões para o deserto do Saara, no Gostosinho”, termo pejorativo que o diminuía em face do grande transportador que vinha da cidade. Ai ficou o nome de batismo.
O Gostosinho serviu essa linha de 1952 até 1963 quando a travessia nas areias do balneário mais popular da zona sul, permitiu o trânsito pelo interior, numa travessia mais segura e curta. O mesmo carro não teve mais sentido e a linha foi extinta, terminando seus dias num puxado da Vila Brasiliano, sem serventia, sendo depois, vendido para um ferro velho de Canoas.
Quantas lembranças do querido automóvel e em quantas passagens pela costa, fez amizades, ajudou muita gente, fomentou namoros que ficaram perpetuados nos nomes escritos a canivete nos bancos de madeira e quanta firmeza para ir e vir, porque o Gostosinho nunca ficou “enterrado na costa do mar”.
E hoje, quando o Hermenegildo resolveu seus problemas de areia com uma plantação vigorosa, firmando as dunas e, sentimos a preocupação dos veranistas barrense com os cômoros que estão se formando junto às barrancas, graças a ação cruel e gananciosa com a construção dos molhes, proibindo a passagem do arroio pelo Acampamento, no maior crime ambiental, provocado por autoridades brasileiras e uruguaias no negro período da ditadura, vamos lembrando o 1° motorista o Wilson do Odranoel e o último “Choffer do Gostosinho, o jovem Jader Dias de Oliveira que pilotou com serenidade e competência esta nave de esperança, ligação entre duas das mais lindas praias do sul brasileiro”.
O Gostosinho, somente trafegou na linha Barra do Chui e Hermenegildo por um período de 12 anos, que foi tão breve, mas que ainda emociona a todos aqueles que usufruíram desse bem maior.

 

O Gostosão, veículo da empresa Pássaro Azul que fazia o transbordo da Barra do Chuí com o Gostosinho que ia para o Hermenegildo, passando pelo balneário As Maravilhas. (do acervo da Sra. Lígia Petruzzi)
Moderno Ônibus Ford a 1940 que substituiu os anteriores defronte ao prédio dos Correios e Telégrafos, no momento em que eram deixadas as correspondências. Este não era o Gostosinho!(foto de Rubens Carrasco).
Vista dos carros 1934 e 36, mais a caminhonete numa parada na costa do Albardão durante uma viagem da Empresa Atlântica.)
Última foto do Gostosinho quando fazia a linha citada tendo a frente o derradeiro "Choffers", Jader Dias de Oliveira, com amigos da família de Paulo Guerra e Maria Vitorina, Maria Helena, (da coleção das famílias Dias de Oliveira e Maria Vitorina e Maria Helena)
O ônibus Ford 1934 tendo José Santos e ma caminhonete da mesma marca, vendo-se ao lado Yácomo Frigério, no porto de Rio Grande.

 

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br