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O VIOLINO DO CLÁUDIO CHORAVA

Esta figura popularíssima em nosso município era cria da família do Sr. Zeca Souza, pai de Dª. Lucila, esposa do médico Osmarino de Oliveira Terra, influente político local, próspero estancieiro e grande agente da medicina conterrânea.
Chama-se Cláudio Rodrigues e como era muito comum em tempos passados, os grandes potentados possuíam em sua volta descendentes de serviçais que lhe prestavam trabalho e vinham passando de
gerações à gerações ao seu lado. Este formou, sua nova família contraindo núpcias com Dª. Ósma Bobadilha, também, atuando desde menininha na casa dos citados, desde vários tempos.
Como expressa uma filha do casal, com muito orgulho, a Srª. Vitória, a mãe somente saiu desse lar para casar com seu pai, a figura que destaco hoje.
Desde a infância inclinou-se para as lides da mecânica e quando seu patrão comprou um automóvel, a ele se afeiçoou e de um simples aprendiz, transformou-se num trabalhador junto à maquinas a motor, de todos os tipos, embora, sempre com tendência ao serviço mais pesado, como tratar de peças de caminhões, tratores, moinhos, carregadores e onde fosse necessário, lá estava o Cláudio arranchado nos mais longínquos locais do interior e inclusive no Uruguai, onde passava temporadas a labutar.
Cláudio Rodrigues tornou-se motorista do Dr. Osmarino e depois passou a prestar seus serviços ao volante, sendo experiente “Choffeur”, expressão francesa da época.
Trabalhou no início dos anos 40 ao volante dos pequenos caminhões que atuavam na construção do porto de Santa Vitória do Palmar, depois, na linha do Expresso Bonfim, de Atanagildo Bonfim.
Era comum vê-lo em volta de oficinas mecânicas, principalmente na revenda Ford de Holmi Flório, sendo “pau para toda a obra”, desde a limpeza dos motores, reconstrução de peças deterioradas, parte elétrica, como os famosos dínamos e outras menores, mas sempre tinha-se em Cláudio, um elementos prestativo que se deslocava para onde sua presença fosse necessária.
Depois de tantos anos de trabalho dentro desta comunidade, Cláudio adquiriu uma caminhonete que servia de transporte de carga e passageiros, como a do famoso Amadeu. Sendo veículos maiores prestavam-se para o deslocamento onde os “carros de praça” se tornavam diminutos para levar tantos trens e pessoas.
Uma das maiores características era sua grande bondade e bonomia, sendo muito calmo, condição fundamental para conduzir veículos à motor em nossos ínvios caminhos, sabendo-se quando a gente ai partir, mas nunca podendo prever o retorno rápido e em segurança.
Dono de uma potente voz rouca e abafada, característica das pessoas de sua raça, já que era mulato, ficou conhecido pelas suas célebres “tiradas”, piadas, anedotas e por que não, de historietas que lhe deram título carinhoso de Cláudio, o mentiroso.
Muitos dos leitores sabem ainda contos que ele imprimia como verdadeiros e mesmo sendo um homem calado, quando solicitado a participar, desfilava um agradável contar de assuntos, principalmente das suas épicas viagens quando ele era o herói principal, mas o assunto em pauta sempre envolvia pessoas que o mesmo adorava estar, junto os citados benfeitores, mais, Dr. Amonte, Derly Kokot, os Flórios, Osvaldo Anselmi e tantos outros.
No fim da sua existência gravitou na esfera do grande líder da zona do G. E. Brasil e do Posto Esso na entrada da cidade que é a figura respeitada de Humberto Corrêa, o Esquerdinha, que possuía em sua volta uma constelação de pessoas a quem todos ajudava e que lhe são gratos até hoje.
Uma das facetas do Cláudio Rodrigues pouco conhecida foi a de músico. Desde menino inclinava-se pelo lado do canto e era nas populares melodias que o mesmo se apresentava. Mas, o mais interessante foi a sua grande paixão artística, pouco procurada nas décadas de 30, 40, que era o violino, por ser difícil de executar, mas sobretudo, muito caro, que não chegava aos bolsos dos artistas, em especial o homenageado.
Para resolver essa situação e “fazer-se os gostos”, construiu um violino artesanal com seu sonoro arco e passou a interpretar canções das mais variadas. Mais tarde, ganhou de presente de um amigo que seguidamente ia a Montevidéu, um belíssimo instrumento que o conservou pelo resto da vida.
Desde menino no clube de palha, o Clube Recreio dos Veranistas, do Hermenegildo assisti ao Cláudio fazer parte de conjuntos musicais e mais tarde, já mocinho, encontrava o mesmo cidadão, com seu violino nos bailes da periferia.
Esse era o mecânico Cláudio! No entretanto, uma passagem que conheci desse misto de “Choffeur, mecânico, contador de histórias e músico”, foi quando pude ouvir de um outro famoso, o Ananias, figura folclórica desta terra, denunciando ao velho Amaral a estada de seus filhos num maravilhoso baile do seu “Queno” e não havendo nada mais ocasional para informar, dizia que “os guris do seu Ernesto e Dona Ibraima dançavam no baile, lá para os lados o campo do Sarapico e o Violino do Cláudio Chorava...”
Fica a lembrança da emoção do Ananias Barenho ao focalizar a atuação desse instrumentista, mas maior ainda, guardo a imagem daquele momento e de Cláudio, que foi um homem trabalhador, honesto, prestativo, que engrandeceu em sua passagem entre nós, a Terra Mergulhona em que nasceu, num misto de presteza alegria e competência.

 

Cláudio junto com a sua camioneta
Cláudio no mesmo momento junto aos meninos e ao senhor Arlindo Zaretti (autor das fotos)

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br