Quem somos
Coberturas
Notícias
Revista
Entrevistas
Enquetes
Arquivo
José Golgerci
Políbio Braga
Colaboradores
Zero Hora
Correio do Povo
Diário Popular
O Globo
Gazeta Esportiva
Clima Tempo
Weather Channel
UFPel
Tempo Agora
Banco do Brasil
Banrisul
Bradesco
Caixa Federal
Santander
Secretaria Fazenda RS
Receita Federal
Proc. Geral da União
TRT
TRE
INSS
Detran-RS
Consulta CEP
Lista Telefônica
 
 

A Boêmia dos novos tempos sob o arguto comando de Vicente Petruzzi

Começava a era de 1950 com grandes modificações na estrutura da vida comunitária neste extremo sul do Brasil e o movimento social iria a apresentar novas nuances entre o circular da vida noturna, principalmente na noite que era silente, cujas ruas escuras e seguras, proporcionavam uma outra espécie de indivíduos que faziam daquele horário seu meio de subsistência e de lazer.
O jogo carteado, as mesas de biliar, a fervescente agrupação depois das onze horas e o deslocamento para as casas noturnas, algumas tradicionais, eram pontos infalíveis da boêmia fulgurante. Os clubes Comercial e Caixeiral, ligados com Jockei Clube davam a recepção a tanta gente que fazia nessa hora um dos instantes mais importantes da sua vida.
Os cabarés, como o já decadente Taça de Ouro, o apelidado Quincho ou Perigo, o do Umbu, na curva da faixa nos Patellas, em fase de encerramento de suas atividades e em meados dessa década surgindo o Isidoro, a Tânia, o Gato Preto e outros, de menos destaque, eram o destino dos notívagos da Terra.
A energia elétrica deixava de ser fornecida após as onze e meia, conforme foi contado na crônica anterior e desse tempo em diante, reinavam os potentes faróis Aladinos, Colleman, movidos a gasolina ou querosene, de luz clara e forte.
Entre tantas pessoas que atuavam noturnamente foi destaque Vicente Petruzzi, argentino, de origem italiana, já que seu pai saído da península itálica, chegou até aqui passando por Buenos Aires, onde o Homem destacado nasceu e depois, quando a família citada aqui aportou, o mesmo, uniu-se em matrimônio com América Leonetti, também oriunda do grupo étnico igual e que deu-nos em retribuição duas grandes figuras que prematuramente se foram do nosso convívio, a professora Carmem, de saudosa memória e o destacado mestre no desenho, pintura, escultura, teatro, João Carlos.
Vicente, o filho mais velho do inconfundível açougueiro Domingos Petruzzi, folclórico, de uma bonomia tal, que só fazia amizades e deixava uma réstea de respeito e admiração.
No entanto, Vicente dedicou-se em quase toda a sua existência a “vida de jogo”, explorando as copas das entidades sociais citadas e foi “ecônomo”, termo muito usado por aqueles tempos, mas esteve mais no Clube Caixeiral, que infelizmente, embora juridicamente exista, não representa mais a importância dentro da sociedade santa-vitoriense.
Sempre estava atento ao fornecimento dos jantares noturnos, como os famosos “completos” feitos pelo Lindico e seu irmão, Sarapico, quando vinham à mesa os suculentos bifes com ovo, arroz e batata frita ou as apreciadas lingüiças destes últimos, expressão que servia para uma interpretação jocosa da turma.
Ao “apagar a luz”, a carpeta, termo espanhol, era formada com grande movimentação, pois, o dinheiro corria solto na cidade e na campanha, acompanhando o gosto da “timba” dos nossos produtores, onde gravitava uma coordenada espécie que era conhecida por “timbeiros”.
Dessas atividades, surgiram figuras que estão estampadas nas fotos deste trabalho e quantas expressões e apelidos ficaram na memória dos freqüentadores daqueles locais como, “no hay agua pa el”, quando alguém disse que depois do Titanic, os americanos estavam construindo um barco três ou quatro vezes maior que ele e então, Vicente Petruzzi, com sua veia repentina e hilariante disse que o mesmo não poderia navegar, já que sendo tão grande, não existiria água no mar para que o mesmo se locomovesse, duvidando da notícia contada ai. Noutra ocasião, tendo ao lado o jovem estudante Sérgio Martino de Oliveira, que viajando à capital do Estado, trouxe a novidade de tomar uma caipirinha diferente, ao invés de cachaça, como era de costume, queria fazê-la com vodka, que era a coqueluche entre os porto-alegrenses.
Nesse interim, com a insistência do deslumbrante rapaz, com ares de cidade grande, que queria vodka, vodka, o arrendatário da copa não sabendo de que se tratava e como o seu linguajar era um misto de português com espanhol, perdendo a paciência, porque ficara inferiorizado com os conhecimentos do moço que havia estado um pequeno tempo “pra dentro”, num misto de gozação e raiva disse-lhe: “vais a Porto alegre e voltas todo diferente, querendo somente “bolca...bolca...bolca”. Esta é a verdadeira razão do apelido que o nosso eclético professor de História e Bacharel em Direito, leva com muito orgulho.
Assim perambulou por nossas noites Vicente Petruzzi, torcedor fanático pelo E.C Vitoriense, como toda a sua gente, criando modismos, servindo aos amantes do jogo e preparando as refeições para que os boêmios da ocasião seguissem para os confins do norte e sul da cidade que nessa época era uma ilha de segurança, tranqüilidade e silêncio, nas noites bonitas, tendo a vigiá-los a “Guarda Noturna” ou patrulha nas ruas arenosas e um modo de vida que o tempo e o progresso apagaram para sempre.
Que figura ímpar o Vicente...que figura...

 

Vicente Petruzzi no bar do Caixeiral, vendo-se da esquerda para a direita, o Chico da dna. Juraci, debruçado no balcão o menino João Carlos, Sarapico, o filho deste, o Gambá e o irmão do retratado, Galinha
Uma geração mais antiga - Joãozinho Oliveira, o grande Alenir Bacelo, Nenê Silva e o irmão, o eterno Dido, Vicente e talvez o maior exemplo de todos, Genaro Morroni e Saldanha que foi grande jogador de futebol.)
A turma mais moderna em fins de 50 - novamente o Gambá, o quase menino Mario Leonetti, Medina, Vicente, outro incomparável "Edsão", o Exo.
Fotos da coleção do autor cedidas por alguns componentes dos fotografados

 

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br