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ARZELINDA JUVENALA CORRÊA OLIVEIRA – A PERTEIRA LELA


ENTRE UMA “CHULHEADA” NA VIDA E UMA BARALHADA DE CARTAS

Em nosso interior encontramos, em tempos passados, figuras que caracterizaram o meio em que viveram e onde até hoje, seus feitos simples, mas quase todos inesquecíveis, são lembrados com um misto de deleite, respeito e brincadeira, perpetuando-se no folclore desta região.
São tantos os vultos que se destacaram, inclusive alguns já foram retratados nestas crônicas, trazendo uma aura de admiração e saudade, mas neste instante, refiro-me a uma pessoa que marcou época nos idos de 1930 a 60, registrada com um pomposo nome de ARZELINDA JUVENALA CORRÊA OLIVEIRA, nascida e vivida na região de Curral Alto (outra vez este rincão) e que era conhecido pelo carinhoso apelido de LELA, a mulher do Pedro Lopes, cuja área de atuação era nas imediações da antiga Estrada Geral, hoje BR-471, nas vizinhanças “dos Anselmi”, como se dizia.
Dona de casa, faina as mulheres da redondeza e principalmente do interior, as suas funções eram a de criar filhos, cuidar a moradia, ajudar nas lidas de campo e por fim, companheira do gaúcho que por ai vivia. A LELA, era mais do que isso! Transformava-se em PARTEIRA DE CAMPANHA, quando era chamada por famílias aflitas e que contavam com a assistência do Dr. Manuel Abeijon, que será retratado noutro momento. Deixava o seu lar em qualquer hora do dia ou da noite, não importando se verão escaldante, quando no escuro, apareciam os “boi-tatas” ou no instante em que o seu cavalo quebrava a geada nas aguadas do caminho, pelos invernos rigorosos no campo. Era um anjo da guarda, atendendo às mulheres que estavam por “dar a luz”, em tão longínquos locais, não importando a qualidade da casa grande ou do rancho, se poderiam pagar ou não, lá estava a LELA.
Muitas vezes, quando a situação era difícil e um “doutor” vinha num “carrinho, o conhecido Sulk”, da cidade em longas travessias que poderiam custar horas ou dia de viagem, ficava esperando junto à parturiente, pelo dr. Amonte, Bonifácio, Osvaldo, Derli, Amaranto e tantos outros que palmilharam nosso interior. Ai é que a tradição e a história se misturam, muitas vezes como realidade ou sonhos.
Várias pessoas testemunharam um hábito da LELA, que além de uma agitada atuação, transmitia calma e segurança, no momento em que mais um mergulhãozinho chegava por estas planícies e afirmavam que, ela sempre se referia jocosamente que “os homens metidos a valentes, naquelas horas de espera, se desestruturavam e muitos chegavam à ráia do desespero. Para isso a nossa Parteira de Campanha tinha o remédio para acalmar os nervos: “se o inditado pai ou marido era o agitado, ela trazia nos grandes e fundos bolsos da saia, de um lado, um baralho de cartas usado na localidade e no outro, um punhado de grãos de feijão ou milho e juntando os “machos”, iniciava uma “carpeta”, que na maioria das vezes era um truco, pôquer ou solo e se as damas circundantes não queriam saber de “fofoquear”, pelo momento angustiante, ela também, usando os momentos meios, armava uma rodada de escova, até que o ato que todos esperavam chegasse para o contentamento ou tristeza de todos”.
Era como se dizia, “a timba estava formada”! Quantos leitores devem estar relembrando estas histórias da LELA.
Numa tarde quente de janeiro de 1973, ai, na Neyta Ramos, esta senhora, uma precursora da ciência da psicologia, partiu, rumo a sua última chamada e quem sabe.......bem, se não trabalhou mais em seu difícil mister, pelo menos, deixou gravada a sua atuação por todos os lados onde recorreu, com fé, esperança numa nova vida, no seu trabalho e é por isso, que foi contado esse fato de da. ARZELINDA JUVENALA CORRÊA OLIVEIRA, a queridíssima LELA, a PARTEIRA DA CAMPANHA que tanto engrandeceu e dignificou, mesmo, quem sabem, sem dar-se conta de seus afazeres, sua passagem pelos campos de Santa Vitória do Palmar.


LELA, com seu sorriso sereno de quem tantas vidas trouxe ao mundo (do arquivo de sua neta Érica Carrasco)

 



 


Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br