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GENTE QUE AJUDOU AO HERMENEGILDO CRESCER
ONDE UMA MESA DE “PING-PONG”, UM JEEP E UM BEIJO, FIZERAM O ENCONTRO DE DUAS RUAS

Agonizavam os anos 30 quando o balneário do Hermenegildo era somente um punhado de ranchos de madeira da costa (Tábuas que por virem transportadas em barcos em seus convés, ao surgirem grandes temporais desprendiam-se das amarras e caiam nágua chegando à terra, fazendo a subsistência dos ribeirinhos de nossos litoral sul) e cobertos da palha Santa Fé ou juncos.
Edificado estava nos campestres que nada mais eram que ilhas de pasto na beira dos riachos em número de dez e que, na realidade eram olhos-d’água saídos desde o areal imenso que separa nossos campos, do Atlântico. O mais importante núcleo estava na propriedade de Wenceslau Rocha e depois, Victor Carrasco, onde José Antonio Fontes, nos extertores do século XIX, acampou com sua família e partiu para uma temporada de veraneio no local chamado de Passo de Hermenegildo Silva, daí a razão do nome.
Nesse momento o ponto começava a vida urbana que acampava e outra alcunha surgiu, a de Acampamento ou ainda, local de estacionamento, por isso passamos a chamar de Estação. Nomes que ainda se ouvem das bocas dos mais antigos veranistas.
Bem no centro da localidade o Srº. Wenceslau Rocha forneceu um terreno onde foi criado um clube que levou seu nome, mas que depois, por ser muito pequeno, foi edificado no centro onde hoje esta a praça Nelson Vasques Rodrigues, com o pomposo nome de Clube Recreio dos Veranistas pra depois, mudar-se para a atual posição onde recebeu outra denominação.
A instituição social era o centro de todas as realizações que aconteciam nos meses de verão e também, ficavam as metas onde todos se dirigiam quando não estavam na linha do litoral, principalmente nos dias de chuva ou vento sul.
Para chegar-se até ai somente fazia-se a travessia das areias sempre a pé ou com carros puxados a tração animal. Ficaram famosas carroças e carretas de carga, os Sulks ou Carros Grandes que faziam o percurso desde a cidade, em não menos de cinco ou seis horas, semelhante ao tempo que agora levamos até Porto Alegre.
Para chegar-se dentro do núcleo referido ao se aproximar do mar, fazia-se uma dobra para a esquerda e através de um corredor arenoso, conhecido pela entrada do Hotel da Juraci ou do Alcides Cardoso e depois do Hotel do Tertuliano esse viéssemos pela costa na entrada do Dorvacil, hoje rua dos Marinheiros ao Largo.
No encontro delas ficava um grande chalé de um dos homens mais poderosos de nossa terra que foi o imigrante italiano Pedro Rotta e que deu-nos forte impulso por ser abastado e da família numerosa. Nesse ponto, em fins da década nomeada, o mesmo transferiu-se para a Barra do Chuí, sendo o prédio de madeira e “alto do chão” como se dizia e que era a formula segura de escapara das constantes inquietas areias que saiam da praia, foi comprado por uma senhora, recentemente viúva e que possuía propriedade na zona de Geribatu, que ficava muito perto do balneário, chamada Malvina Fernandes Corrêa.
Seus filhos a acompanharam e que eram o Marçal apelidado de Nenê, o Armando falecido precocemente, o Menandro e a menina do grupo chamada Laureana.
Desta moça relembra-se muitos que era a prenda mimada do grupo e os encantos de Dª. Malvina, participante das festas na costa, dos bailes no clube e de uma vida intensa onde imperava com sua beleza rodeada de outras meninas-moças enfeitando a vida estival do Hermenegildo. Nunca Deixou de veranear e mesmo depois de adulta, forjou a sua gente no amor por estes pagos.
A gurizada terrível que lhe antecedia em idade, sempre estava fazendo anarquia nas horas mais alegres da sociedade, quando o jogo do “ping-pong”, atraia a mocidade para disputar o tão desejado por todos, sempre estava incomodando o grupo dos maiores e a senhora Malvina fazia inteligentemente, uso de um bem que a Laureana possuía na última peça de moradia – uma pequena mesa de “ping pong”, já citado.
Este móvel era a paixão da molecada, embora menor que o do clube e todos eram atraídos pela possibilidade de aí jogar, comendo uns pastéis ou sonhos feitos para eles. Dessa maneira o Clube Recreio dos Veranistas ficava livre daquela horda de barulhentos meninos.
Laureana sempre esteve naquele local, passados mais de 70 anos vendo o progresso e as mudanças que este ponto de acampamento apresentou e continua ágil e ansiosa para que chegue os meses de verão para ver tantas cousas novas, mas muito mais do que isso: assistir o ruído do mar, o luhar de janeiro e os ares desta linda terra.
Mas o Hermenegildo não foi feito nesse ponto somente de nossa homenageada, já que ali vivia o mano menor chamado de Menandro. Era fogoso, sempre brincando, ágil e temperamental. Gostava de uma aventura, principalmente “correr lebre nos “combros”, andar nos cavalos que trazia de fora e preocupar-se em chegar até fora das areias” para trabalhar no campo.
Este Menandro era terrível! Era...isso mesmo.....mas para o lado sul do riacho começou a funcionar modestamente uma pequena parada para os veranistas que não possuíam casa na localidade e terminou com o carinhoso nome de Hotel da Juraci, da sra. Juraci Donato Cava e que impressionava pelos seus cômodos simples e um refeitório que ainda impacta a gurizada amiga de seus filhos Tutunga e Francisco que sempre estavam por lá, atrapalhando. O motivo de chamar atenção era a limpeza das toalhas, mesas e o piso, profundamente brancos.
Este Menandro conheceu duas moças que eram do clã, a Derna e a Ernestina, conhecida como Totota e que com menos de treze anos caiu de amores pelo intrépido mergulhão e daí surgiu um romance que passado tanto tempo (façam as contas) continuava iluminando o ambiente do Hermenegildo.
A paixão foi fulminante e o primeiro beijo inocente no rosto do galã foi dado pela Totota e retribuído violentamente pelo fogoso moço e daí nunca mais se separaram, formando uma gente que demonstra o amor pela praia, já que dois de seus filhos residem inverno e verão no acampamento.
Menandro recebeu de sua mãe um jeep 51 para que servisse de elo entre o mar e a campanha e infelizmente a primeira viagem feita pelo jovem foi levar a sua genitora para a cidade de onde nunca mais voltaria.
Este carro que era valente no trânsito nos terrenos mais difíceis, ficou famoso junto com o do sr. Roberto Rotta, já lembrado em outra crônica do mesmo sentido, em fazer constante viagens para a Barra do Chuí, Chuí e Santa Vitória do Palmar, a procura de recursos, principalmente em socorro de doenças
Assim mostra-se um instante da vida hermegildeana com personagens unidas familiarmente no encontro do verão em volta do clube, das amizades, da vivência em grupo.
Da menina Laureana e sua mesa de “ping-pong” e da cordura e visão de dona Malvina. Do romance do outro lado do riacho no hotelzinho da Juraci, com a Totota e o Menandro que estão vivendo para todo o sempre, demarcados pelas ruas que hoje chamam-se, a da Saudade e dos Marinheiro ao largo, onde um jeep deu segurança a uma população isolada e um tímido beijo no rosto e a recíproca um violente estalar de lábios, pontificou para a história destas plagas, a junção de dois caminhos que foram palmilhados por esta gente que é retratada com tanto carinho e saudades do Mar do Hermenegildo, onde sempre esteve pronta para ser a GENTE QUE AJUDOU O HERMENEGILDO A CRESCER;

 

Ernestina junto a sua mãe dona Juraci e seus irmãos Francisco e Luis Ernesto, o Tutunga
O casal Menandro Fernandes Corrêa e Ernestina Cava Corrêa
Ernestina, Laureana e Menandro
Laureana e o neto Santiago

 

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br