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ESPIAR AS FESTAS
UM HÁBITO SOCIALMENTE HISTÓRICO QUE NÃO EXISTE MAIS

Desde há muito tempo as festas públicas em nossa Terra eram um acontecimento que envolvia a pequenina sociedade santa-vitoriense e menos intensa, na campanha e praias, como nas demais cidade do interior.
A aglomeração era muita e quase todos os habitantes do lugar se deslocavam para o sítio onde o encontro se realizava. Independentemente de raça, idade, sexo e poder aquisitivo, todos possuíam a capacidade de participar de importante situação, onde rolavam comidas, bebidas, encontros e até, porque não, brigas, que as vezes, chegavam “a vias de fato”, termo muito usado naqueles tempos.
Era uma maneira simples de interação num ambiente onde, por força do sistema econômico, fazia com que as divisões de classe, se destacassem de uma maneira até desumana.
Havia exceções, como os jogos de futebol, carreiras, carnaval, festas religiosas na Igreja Católica e também nos momentos fúnebres, onde o grupo maior dos estancieiros e a dos pobres se divertiam ou choravam a tristeza da morte,juntos.
Em determinada ocasião, lá pelas décadas de 20, 30 e meados de 40 a 50 a divisão dos clubes sociais era muito clara entre o Comercial e Caixeiral e nos balneários, o Clube Beira Mar, fazia o reflexo da cidade e no Clube Recreio dos Veranistas, por ser o encontro de uma classe menos previlegiada, a mistura era grande, embora quando do término do veraneio, tudo voltasse ao seu lugar.
Os cinemas, que por aqui existiram, também, eram um ponto de diferença entre as classes sociais, sendo que certas famílias de baixo poder aquisitivo não possuíam, mesmo costumeiramente, não possuíam o hábito de ocupar tão cobiçadas posições nas cadeiras ou camarotes e a galeria, não era ponto de disputa porque essa localidade recebia a gente pobre da cidade.
Mas Espiar as Festas, mais concorridas eram nos instantes em que existiam casamentos na Igreja Matriz ou a festividade acontecia na casa da noiva.
Luzes fartas, riquezas de cores e elegância no trajar de ambos os sexos, música ao vivo, como era o costume, com sonoras orquestras da localidade ou de fora, conforme o poder econômico do pai da noiva.
As enormes janelas dos casarões, principalmente no centro da cidade ou em volta da praça Gal. Andréa, deixavam entrar os sons e a visão do que se passava lá dentro, parecendo que os convidados no aconchego de tão lúdicos salões, entre “comes e bebes” e danças elegantes, não se davam conta do que acontecia lá fora, mesmo com sol, frio, vento e os daqui, deslumbrados com o quê assistiam, nem se preocupavam com as adversidades do tempo e mesmo da vida que levavam. O importante era Espiar a Festa que em raras ocasiões o dono da casa num gasto magnanime mandava servir frios, doces e bebidas a todos aqueles que persistiam no ato de acompanhar o instante deslumbrante.
Nos clubes da cidade o fato se repetia e muita gente sócia, que por força da idade não podia participar das valsas, tangos e sambas, se deslocava cedo para essa entidades e procuravam um lugar próximo ao salão, fora da copa, para passarem a noite inteira, assistindo tão maravilhosos encontros bailantes. Alguns, principalmente as mães ou avós e tias, mais afins, acompanhavam o divertimento dos filhos, sobrinhos e netos, até a madrugada.
Na rua, em frente as sacadas, uma pequena aglomeração se fazia sentir, quando as pessoas que não podiam participar dos bailes ficavam na audiência de tão importante situação.
Como os nossos clubes são construídos virados para o norte e o vento desse lado é comum, os festeiros quase sempre desejavam fechar as ventanas para evitar que o calor do salão não prejudicasse os bailarinos e acompanhantes até ao nascer do dia, dificultando a visão dos assistentes.
No Hermenegildo, o clube de madeira e palha possuía a possibilidade melhor para a turma que enterrada na areia do redor, ficava atenta e feliz, já diferente da Barra do Chuí, onde o prédio era de melhor categoria, mas que as aberturas dificultavam o espiar da festa.
Espiar as Festas foi um grande momento de congraçamento de uma sociedade tão separada entre seus indivíduos, mas que proporcionava um encontro nesse instantes, todos.
Esses desejos agora não existem mais porque, felizmente, as portas de uma sociedade dividida pelo dinheiro, começou a ruir e a mistura acontece violentamente e onde essas instituições não são tão desejadas e as festas, como casamentos, aniversários dos ricos foram minguando pela difícil situação econômica que passamos dentro da conjuntura mundial.
Espiar as Festas foi um marco nos encontros de uma sociedade tão desigual como a nossa e que felizmente, está desaparecendo, embora com grande saudades de alguns...

 

Baile de Carnaval no Hermenegildo com os foliões a frente do clube (Foto do autor).
Clube Caixeiral
Clube Caixeiral prédio antigo (hoje sede do PT) esquina Marechal Deodoro com Conde de Porto Alegre
Clube Comercial
Clube da Barra do Chui (antigo chalé)

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br