Quem somos
Coberturas
Notícias
Revista
Entrevistas
Enquetes
Arquivo
José Golgerci
Políbio Braga
Colaboradores
Zero Hora
Correio do Povo
Diário Popular
O Globo
Gazeta Esportiva
Clima Tempo
Weather Channel
UFPel
Tempo Agora
Banco do Brasil
Banrisul
Bradesco
Caixa Federal
Santander
Secretaria Fazenda RS
Receita Federal
Proc. Geral da União
TRT
TRE
INSS
Detran-RS
Consulta CEP
Lista Telefônica
 
 

MAIS UMA FIGURA POPULAR DE NOSSA TERRA
Eurides Pinto – O Banhado Tiririca

A Evolução das comunidades é tão rápida que se não é por alguns, chamados saudosistas ou ligados à área da História, empenharem-se para guardar os acontecimentos passados, muita coisa estaria dentro do sentimento do povo.
As Figuras Populares são símbolos em todas as agrupações urbanas ou rurais, principalmente, aqueles que por uma deformação física ou mental, são alvos das brincadeiras das crianças, quase sempre incentivadas por adultos.
Em todos os instantes, essa situação não foge à regra, não é de duvidar que, muitas vezes, fazemos estas maledicências, malvadezas por inocência, o que é muito raro, ou então, como um alívio por não ter acontecido conosco ou nossa família.
Sempre andarão por aí, entre nós, pessoas que são execradas, principalmente, quando se revoltam com tal agressão.
Eurides Pinto foi um deles. Ao invés de aceitar as brincadeiras e apelidos que combinavam com seu visual, mantinha um comportamento um tanto agressivo, respondendo com irritação, proferindo palavrões.
Um acontecimento marcante na vida de Eurides, teve lugar no Hotel Brasil, quando Davi Lima era gerente. Isto nunca foi confirmado por ele, porém, o coitado tinha reações até violentas quando a gurizada da rua gritava: “Quebraste os pratos do Davi”. Maior trauma lhe causava ainda, e ninguém soube explicar porque, quando algum passante chamava-o aos gritos: “Banhado Tiririca”!
Eurides Pinto – o Banhado Tiririca, vem de gente importante lá da zona do Sarapico, sendo cunhado do Lindico Saraiva e do João Machado, e que sempre viveram na rua João de Oliveira Rodrigues entre a Av. Bento Gonçalves e o Ginásio de Esportes Cardeal.
Mocinho ainda, em 1923, quando nosso estado esteve convulsionado por uma série de revoluções armadas, sendo a mais conhecida neste ano, a luta entre Castilhistas e Assisistas, e que terminou com a paz de Pedras Altas, onde Borges de Medeiros aceitou, para continuar mais vinte e cinco anos no poder, em alterar a Constituição Estadual, proibindo a reeleição.
O Estado de guerra que muitos males causa, era difícil de controlar, principalmente, pela distância das comunidades e os parcos recursos dos municípios onde as lutas eram brutais.
Santa Vitória do Palmar sempre possuiu uma emoção belicosa, sendo que as forças partidárias ou mesmo esportivas, formavam uma barreira intransponível para ocupar cargos públicos, posições esportivas, onde era rigorosamente vedado o acesso de gente de um lado para o outro, inclusive amorosa.
O governo do Rio Grande do Sul, desesperado com a ação interminável de refregas entre irmãos, criou uma fora pública de responsabilidade do Governador do Estado e, que na época chamava-se Presidente, dando poderes ao Prefeito Municipal e ao Delegado de Polícia para comandá-la com “mão de ferro”.
Este grupo chamado de Corpo dos Provisórios porque finda a ação militar e pacificada a região, ele seria dissolvido. Os membros da corporação sempre requisitados na população pobre, do sexo masculino, alguns de má formação social, mas outros de boa índole e que se organizavam para praticar o bem. Ficam conhecidos como “Os Por Enquanto”.
O Banhado Tiririca, Eurides Pinto, fez parte dessa coluna militar, sendo homem de confiança do Delegado, “pau para toda obra”, expressão comum naqueles longínguos tempos. Para trabalhos de ações extras militares o Banhado Tiririca servia, inclusive, embora não haja provas comprobatórias do fato, que por ser pitoresco, conto: “Dizia-se, a boca pequena, que o enérgico comandante possuía um “achego” na periferia da cidade e que, muitas vezes, nos momentos de ronda dava uma passadinha na casa de sua amada. No entanto, nas noites calmas, sem a necessidade da presença da autoridade de “Chefe”, e, com a confiança que possuía no Eurides usava um estratagema que o soldado Por Enquanto fazia com prazer e zelo. Chegava à residência da autoridade e, batendo à porta vinha atendê-lo a esposa. Ele dava-lhe um recado urgente que o comandante deveria juntar-se aos soldados pra uma diligencia e lá se evadia o feliz apaixonado para passar uns instantes nos braços da linda “amiga”, (“Expressão daqueles tempos”).
Em certa ocasião, o soldado Eurides, que falava espanhol, mesmo sendo brasileiro, costume da região e influencia dos vizinhos uruguaios, pediu uma audiência urgente com a autoridade que custou a recebe-lo. Quando aconteceu e perguntado o que fazia ali naquele momento respondeu-lhe que precisava muito de um aumento em seus vencimentos e o cartão disse-lhe que impossível atender ao inusitado pedido, mas o cabo, agora promovido, continuou a redobrar seu preito. Nesse momento, o delegado respondeu-lhe num tom ameaçador, que não poderia assegurar sua pendência, perguntando-lhe a razão de tanta insistência. O Banhado Tiririca disse profeticamente... Diligencia, My Delegado... Diligencia... Diligencia, My Delegado...
Não é preciso fazer grandes exercícios mentais para saber que o Eurides, além de promovido na tropa, como realmente fora anteriormente, teve seu salário de militar aumentado.
Os Por Enquanto terminaram sua função e o Eurides foi envelhecendo, sendo conhecido nas cozinhas dos restaurantes, casas de jogo, no Hotel Brasil, talvez daí a brincadeira, e terminou seus dias, enquanto teve forças, perseguindo a meninada e, muitas vezes, adultos impiedosos.
Com um grande chapéu, tentando vestir-se, com as roupas que muitos lhe davam, e uns óculos de sombra, principalmente os famosos Raind-Band, percorria nossas ruas e quem sabe, para espantar às vozes malvadas que lhe gritavam aterrorizantemente. Somente ficava eufórico, numa conversa serena com os mais racionais quando estes mesmo brincando, o chamavam de General.
Um dia cinza e frio dos anos sessenta, depois de um longo acamado em casa de sua irmã e posteriormente, ocupar um leito no antigo isolamento da Santa Casa, partiu Eurides Pinto para seu último local de descanso, não ouvindo mais os gritos dos moleques que entoavam à sua passada, a gritaria dolorosa e infernal de ... Banhado, quebraste os pratos do Davi Lima... ou de Banhado Tiririca... mas sim, vendo a sua frente um pelotão garboso do Corpo dos Provisórios, os Por Enquanto, fazendo continência a ele, seu grande general e assistindo, não sei de onde, o sorriso calmo e libidinoso do seu chefe comandante dos Provisórios e ele, agora promovido, dizendo... “Diligencia My General... Diligencia My General”.
Lá estão em formatura solene, os companheiros, respeitando as divisas conseguidas com consciência e astúcia, num campo onde é difícil ser “de um Por Enquanto a um grande General”.
Diligencia... Nada Mais... Que Diligencia...

Foto do acervo de Gerson Juarez Maragalhoni, vendo-se de pé Eurides Pinto e, sentados no umbral da porta do prédio onde se localizava a oficina rádio técnica, situada à rua Conde de Porto Alegre quase esquina Sete de setembro, Gabriel Pizzarro, tendo ao colo sua filha Dinamara, Venâncio Sanes e Eudóxio Lazo.

 

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br